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domingo, 27 de outubro de 2013

Pedaço de passado

Aquele sorriso bobo ficou para trás
As noites sem compromisso não existem mais
Sorrindo quando é preciso e possível
Por vezes sonhando
Mas pouco dormindo

A crença nas pessoas ficou pra trás
Uma amizade por esquina, não mais
Hoje prefiro os fiéis companheiros
Amigos de luta, de bar
Amigos de sol e de luar

Amores voláteis ficaram para trás
Descomplicados e despreocupados não cabem mais
Coração duro, às vezes frio
Ás vezes carente
Um pouco menino

Aquela paixão, sim, deixei para trás
Maravilhosa e devastadora, não há mais
Somos quase estranhos, estrangeiros
Piratas à deriva
Solitários na vida

Aquela menina não! Não ficou para trás
Só não protagoniza mais
É figurante de si mesma
Generosa, saiu de cena
Lembrada nesse poema

sábado, 19 de outubro de 2013

Sobre meninos e suas realidades

Há uns dias atrás eu me peguei fazendo uma reflexão sobre dois acontecimentos que foram notícias dos jornais e inicialmente nada tinham em comum.
O primeiro e chocante fato se dá em 5 de agosto, em São Paulo, quando o menino Marcelo de 13 anos mata a tiros mãe, pai, avó e tia-avó e por fim a si mesmo. 
O segundo e não menos chocante - pelo menos para mim - se trata de um menino de aproximadamente 8 anos que desceu por várias vezes em uma brincadeira um viaduto de uma via movimentada do Rio de Janeiro, no dia de 20 de setembro.
O primeiro garoto tem nome, um sobrenome já bem divulgado, não entrarei nos detalhes do caso mas, tem endereço, sabe-se muito sobre a família, a vida, os gostos, os amigos, logicamente faz parte do processo de investigação do caso, mas fez-se até mesmo uma análise psicológica deste menino (morto). A mídia e a polícia querem entender o que realmente aconteceu. Como esse menino conseguiu realizar esses assassinatos? O que pensava Marcelo? Como vivia Marcelo? Como era sua relação com os pais?
A sociedade se divide entre acreditar nessa história e cogitar que existe um algo mais ainda desconhecido. O que choca é fato de ser um menino que vivia com mãe e pai que possuíam empregos estáveis, uma casa segura, um bom colégio, acompanhamento médico e outras coisas que permeiam essa fase da vida, ser o responsável por tamanha tragédia.
Reparem agora que o segundo garoto não tem nome, pelo menos não nos veículos de notícia nos quais eu pesquisei. Sim, existem leis que preservam a identidade de menores. Não, não encontrei nem mesmo as iniciais. Um dos sites em que pesquisei sequer tem certeza da idade do garoto, assim como reescrevi parágrafos acima. 
O que nós sabemos sobre esse menino? Encontrei a matéria principal e duas matérias relacionadas. A primeira relata que esse garoto e sua família - mãe e irmãos - ocupam um prédio abandonado junto com outras famílias e que o menino já foi encaminhado para o conselho tutelar anteriormente. A segunda relata uma ação judicial que objetiva a desocupação desse prédio que corre risco de desabamento, detalhe é que dentro deste lugar corre um esgoto e as paredes estão completamente tomadas por infiltrações e mofo.
Da mãe, não sabemos o nome, nem o rosto. Endereço? Não, pois ele não mora, ele ocupa. Como vive o menino? O que pensa o menino? O que come?
Estas perguntas ninguém fez. Nem a mídia, nem a polícia, nem a sociedade, nem os motoristas que se incomodaram com a presença do menino no viaduto.
Porque o menino tomou tal atitude? Para esta eu tenho a resposta. Porque ele achava legal.
Sobre Marcelo ficamos todos perplexos ao ver um menino que tinha "tudo" agir dessa maneira, expressando tanta violência. Queremos entender.
Sobre o menino (sem nome), queremos ajudá-lo? Queremos entender porque sua família vive da maneira que vive?
Se daqui a aproximadamente cinco anos, quando ele estiver com aproximadamente treze anos, ele será capaz de matar, de roubar? Se for, nós tentaremos entender o que o levou a tanto? Ou não questionaremos por ser mais um garoto de família pobre que teve uma infância carente e cujo destino não poderia ser outro? Será que ainda estará vivo? Ou acabará com sua vida aos poucos perdendo para o crack? O que podemos esperar para a vida desta criança?
Exagero meu? 
Quantos garotos sem nome não vemos todos os dias, nas ruas, calçadas e viadutos brincando de viver, de matar e de morrer?
A realidade desse menino é algo banal, não nos incomoda.
Poderiam ser histórias iguais, eles poderiam ser amigos, vizinhos, mas é a realidade social que os distancia e principalmente os diferencia, que coloca um em evidência para que o outro continue invisível.