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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Não é carência.



Nem sempre é carência e não menospreze a carência. Mas, nem sempre é. 
Carência vive de momentos, de fases, períodos de tempo que conseguimos contar. Carência se ameniza com brigadeiro, filme da Reneé, músicas tristes, bons abraços e sexo bom.  Carência se distrai com risada de criança, chorar de rir com a melhor amiga, caminhada ouvindo música e vento na cara, corrida, muita dança e sexo ruim. Carência se disfarça com sorrisos, gargalhadas exageradas e piadas sobre si própria.
Mas não é carência. É falta.
E falta não se disfarça nem distrai.
E falta só deixa de ser quando é presença.
Falta é aquilo que você sente quando tudo mais te completa e você sabe que ela está presente, quando tudo mais se cala mas ela tá ali gritando. Falta vai surgindo nos detalhes que você entende, grandes ou pequenos, são aqueles dos quais você se lembra sempre. E em cada lembrança a falta se faz. Falta não se mede em meses, não é um período ou um ciclo, não é uma fase. Falta é uma companhia.
Não deveria ser vergonha assumir a falta, não é um erro ou uma escolha, tampouco é sinal de fraqueza. Ser feliz convivendo com a falta é para os fortes. E se não conseguir ser feliz, parabéns! Aí existe um ser humano normal que não consegue sempre, não conseguimos.
Falta é aquele sentimento que te faz direcionar o olhar pra um ponto qualquer e não pensar em nada, porque simplesmente falta. 
Faz falta.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Todas As Cores De Preta

Mulher de cor?
Sou de todas as cores!
Sou de todas as cores que me pintam
Sou de todas as cores que me pinto de amor
Pintaram-me negra!
Criola, macaca, mulata, globeleza
Pintaram-me bunda
Pintaram-me com as cores do açoite
Sangue, suor, saliva, esperma
Cor da noite, dentes fortes, cabelo duro
Penteia, alisa, corta, cacheia
Pintaram-me feia
Baiana, africana, macumbeira, exótica
Pintaram-me cada um a sua ótica
Morena, escurinha, não preta
Pintaram-me
E pintei-me
Com as cores da ousadia negra
Com as cores que sempre me couberam
Com as cores que nunca me pintaram
Pintei cabelo, boca e fala
Crespa assumida não mais escondida
Consciência, poder e beleza!
Pintei-me de África Mãe
Dandara, Tereza, N'zinga
Pintei-me África Viva
Congo, Ndongo, Benguela
Pintei-me em estampas,tecidos e formas
Verde, vermelho, amarelo
Pintei-me em inspiração ancestral
Tatuagem sobre a pele
Pintei-me em arte, música e dança
Vibrei ao som das batidas da terra
Pintei-me do couro do tambor
Pintei-me do ouro
Pintei-me negra
Gritaram! Gritei!
Briguei! Calaram.
Não me calaram.
Não calarão.
Não apagarão
O negro em preto e branco
Sou preta
Sou negra de todas as cores.
De todos os tons
Sou todas as cores.
Sou todas as pretas.

domingo, 29 de novembro de 2015


Vontade de apertar ocê
Sentir aquele cheiro bom que vem
Sempre que o vento vai
por entre a camisa e a pele sua
Ficar de ócio na tarde de primavera
Querendo ser tudo que podemos
Olhando a folha nova se balançar
Abrindo a porta pro beija-flor entrar
Ouvidos sorrindo ao som do jazz
E a companhia melhor que cê traz
Falando apenas com o toque das mãos
Tudo que ainda não falamos com a voz
Vontade de lhe conhecer
Lábios, gestos e seu pulsar
Para que não possa nunca lhe guardar
Mas sempre ler, lhe lembrar, lhe ver e viver
Que seu rosto invisível
ao meu fechar de olhos
Traga seu nome
e o que mais não precise de forma para existir
E então fique onde está
Pra que eu possa apertar ocê
E me aperte, se quiser,
mas não saia de mim

A PRETA QUE SOU

Me olhei no espelho
e me vi preta!
Não era a primeira vez
mas nunca antes desta cor

Me olhei no espelho
me vi negra!
Do jeito que não cresci
Com o cabelo que nasci

Me olhei no espelho
e me descobri
Com um padrão novo
De uma imagem ancestral

Me olhei no espelho
e sorri
Minha beleza é de Ouro
Negro é meu tesouro

Me olhei no espelho
Nunca mais igual
Minha carne é de luta
Não de carnaval

Me olhei no espelho
e a princesa era eu...
Não loira, não lisa, não magra
Nem branca, nem santa, nem fada!

domingo, 8 de novembro de 2015


Não pedirei desculpas pela marca de minhas unhas em suas costas. Não é preciso perdoar um corpo que lhe deu prazer. Guarde-as como memória efêmera do gozo infinito de trinta segundos. 
Gozo. Suor, prazer e dor.
Não perdoarei suas mãos por limitarem meu corpo aos seus movimentos, embalados pelo nosso som, uníssono. Grave, agudo, grave, dentro, fora...Silêncio! Só os olhos se falam.
Suspirei e inspirei seu cheiro. Entorpeci. Envolvida pelas nuances de algo que não era amor (cenas inomináveis), me rendi e ganhei o jogo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O sim para a utopia

Eu digo sim! Aquele famigerado sim de final de novela. O sim para o casamento.
Eu vivo bradando que não quero, quando esse assunto entra em pauta e não quero mesmo ter um casamento dentro dos moldes que muitas mulheres com quem convivo relatam e reclamam ter. Eu cresci vendo relacionamentos abusivos e muito antes de saber o que é uma feminista, eu sabia que não queria aquela vida pra mim. Mulheres sendo subjugadas, inferiorizadas, preteridas, sempre insatisfeitas e mesmo quando se sentiam satisfeitas, eu via mulheres que viviam a vida do marido ou em função dele. Cresci, e pelo que vejo não mudou muita coisa. Hoje eu vejo mulheres jovens e esclarecidas que se conformam em dizer "que os homens são assim mesmo". Não me conformo e não aceito o conformismo. Quero uma felicidade real, uma felicidade a ser vivida.
Eu não quero um casamento por sexo pois, para isso não preciso de um parceiro fixo, ninguém precisa. Eu não quero um marido para pagar as minhas contas, porque eu as pago, trabalho pra isso. Pago minhas contas, minhas dívidas, minhas cervejas e calcinhas.
Não quero um marido pra fazer o serviço de homem na minha casa. Troco um chuveiro muito bem! Me entendo com os aparelhos eletrônicos e simplesmente não existe serviço de homem, o serviço é de quem sabe fazer e quem quer aprender.
Não quero um marido só por tê-lo. Muito me incomoda quando alguém me diz que eu vou me casar sim, como se não casar fosse o meu fracasso como mulher, um atestado de mulher infeliz. Sendo mãe sozinha, o casamento parece ser a minha rendição perante a Sociedade.  "Foi mãe solteira, mas agora arrumou um homem que aceitou o filho dela e quis assumir". Não quero!
Que casamento é esse que eu quero então?
Eu quero dividir a vida com outra pessoa. Ser autosuficiente o tempo todo pesa, dói e precisei de um certo amadurecimento para admitir isso. A vida é muito grande pra vivê-la toda sem uma companhia fiel.
Quero um casamento em que eu possa ser abraçada quando o corpo cansar e dar o mesmo abraço quando precisar. Quero um casamento em que eu possa compartilhar o riso solto quando algo der errado e chorar quando as lágrimas transbordarem. Tomar chá quando estiver frio e suco de limão com couve quando a testa suar.
Quero um casamento onde haja gentileza e respeito se sobrepondo à raiva e às diferenças. Onde amor e companheirismo sejam as respostas na hora da dúvida e do medo.
Quero um casamento que me surpreenda também, que se renove e renove a vontade de estar juntos.
Sei que as pessoas se casam buscando por isso, mas nem todas tem. Acreditar que eu terei parece utopia, mas por que não acreditar? Qual o mal da utopia? Ela existe. Se não for assim, como será?
Sei do meu valor e de quanto amor e sentimentos bons tenho em mim. Perfeição eu não quero porque não existe, quero realidade, carne e osso, uma vida linda cheia de cansaço na subida com um ombro amigo pra se apoiar.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Dorme filhinho, dorme
Imagine as estrelas a brilhar
Ouve o vento soprando a noite
Gato miando no telhado
O anjo do sono vem ninar

terça-feira, 22 de setembro de 2015

BEIJO-TE ABRAÇO

Abraço-te então
Como quem beijar-te ia
Dois braços sejam lábios
Corpo inteiro seja língua
Nos olhos fechados
Três segundos - um infinito
Dois mundo
Uma dança
Na cumplicidade do toque
A mão que conhece o couro
Bate sem ferir o tambor
Que canta...
Sob o quarto crescente
Te fiz meu
Sem que tu soubesses
Sendo tua
Como um dia irás descobrir
Que sempre fui

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Palavras de brisa-sonho

Escrevi poesia na nuvem
rabisquei com os dedos
Uma brisa suave
levou meus versos
como um balançar de asas
Segui aqueles restos de nuvem,
as meias-palavras
e os rabiscos pingados
Caminhei por toda a areia
daquela praia vazia
Marquei pegadas em zigue-zague...
O mar que não era calmo
me olhava com poder
Quebrava as ondas nas pedras
como trilha sonora
Eis que no alto azul
bailaram pipas de todas as cores
E com o branco dos meus versos-nuvem
formaram um balé arco-íris
Enquanto o sol se despedia nas montanhas de lá
Meus versinhos se alinhavam no horizonte de cá
Novamente eu vi minha poesia-nuvem,
como um pote de ouro no fim do arco-íris,
numa moldura de brisa-sonho.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A MENINA DA BONECA

A menina da boneca
Tem sempre uma companheira
Uma amiga fiel
Pra qualquer brincadeira

A boneca da menina
É filha, é princesa
E mesmo sem realeza
Dá motivos para amar

A menina da boneca
Sonhou o ano inteiro
E ganhou o seu presente
Em dezessete de janeiro

A boneca da menina
Não consegue imaginar
Que no mundo há crianças
Lhe esperando pra brincar

A menina da boneca
Ri um riso mais feliz
Pois é o sorriso da criança
Que ilumina a infância

Versinhos pra Lua

Lua linda cintilante
Brilha bailarina bela
Do céu,
Seu palco estrelado
Fez um fã apaixonado
Que te namora da janela
Lua senhora da noite
Paz na minha escuridão
Espero pelo suspiro do sol
Vejo dormir o girassol
E te encontro na imensidão

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Olha o menino

Olha o menino atrás da porta!
Espiando a gente
Espiando a vida
Espiando o mundo
Esperto esse moleque
Tem a sabedoria dos pequenos

Olha o menino atrás do poste!
Ele veio pela rua
Chutando pedra
Driblando a sombra
Gastando o asfalto
Parece grande na sombra
Sonha grande esse pequeno

Olha o menino soltando pipa...
Cortando linha
Quebrando regra
Cortando o vento
Voando como papel
Colorindo o branco do céu

Olha o menino atrás da bola...
Correndo descalço
Levantando poeira
Marcando gol
Esse garoto é craque!
Nasceu campeão

Olha o menino ganhando a vida
Vendendo bala
Querendo bala
Levando bala
Parecendo homem
Mas sendo menino

terça-feira, 21 de julho de 2015

Hoje me suicidei
Doeu
Mas nos outros dias
Doia mais
Não cortei os pulsos
Não amarrei corda no pescoço
O veneno que tomei em dose grande foi rejeitado
A minha carne já estava mais que perfurada
Armas de fogo nada fariam
Nem lanças cortantes
Hoje me suicidei
Com uma única porção do que me faz mal todos os dias
Mas a escolha nem sempre foi minha
A falta dela é que me complica
Bastava só um gole dessa dor
e foi o que me restou hoje
Me suicidei
Me afundei em todas as lágrimas que não chorei
Num quarto de vida duvidosamente vivida
Parcialmente sofrida
Vezes arrependida
Me suicidei
Não rastejei
Me sentei no canto escuro e ali fiquei
Ali ainda estou

domingo, 19 de julho de 2015

Já fez uma faxina hoje?

Ao longo da vida, ouvi inúmeras críticas às mulheres que se prostituem com a justificativa de que em caso de necessidade de trabalho, sempre existe uma faxina pra fazer.
Isso me levou a fazer certos questionamentos quando eu deixei de recriminar as mulheres que fazem esse trabalho ( sim, trabalho!) e passei a entendê-las, afinal, as escolhas, independentemente dos motivos, são pessoais. Como poderia eu criticar tantas mulheres que eu nunca conheci e que mal algum me fizeram.
O moralismo das pessoas que as criticam, banalizam o contexto com a fala pronta de que se precisasse muito de trabalho ou dinheiro, faria faxina, mas não recorreria à prostituição.
Hoje, limpando a cozinha da minha casa eu quis perguntar para cada uma dessas pessoas: "Você já fez uma faxina?"
Você acha mesmo que todas as mulheres sabem fazer faxina?
-Uma mulher que não sabe faxinar é tão digna quanto aquelas que o fazem por profissão e aquelas que fazem sexo por profissão.
Você sabe o quanto é duro faxinar? E por amor, não me responda que prefere essa dureza a vender sexo.
Faxinar não é pra qualquer um!
Você tem conhecimento das humilhações que uma mulher passa ao limpar o chão de outra pessoa? Muitas vezes são tratadas como escravas, seres humanos sem direito a terem direitos, sem direito a terem escolhas . Tem sua honestidade testada por patroas que colocam grandes quantidades de dinheiro em lugar de fácil acesso na casa. Muitas vezes sem ter o direito de comer a mesma comida dos donos da casa, sem ter direito a parar pra comer. Ter seu trabalho desvalorizado e acabar aceitando pagamento muito abaixo do justo. Ter que ouvir que seu esforço não foi suficiente e a casa não está limpa como deveria.
Ao longo da minha vida também ouvi inúmeros relatos de pessoas que passaram por situações muito piores que as que citei, por fazer faxina, muitas vezes, por só saber fazer faxina.
Você acha mesmo que sabe fazer uma faxina, você acha que consegue?
Eu não!
Respeito as diferentes formas de pensar e enxergar a vida, mas uma mulher que vende sexo é tão digna quanto uma que vende limpeza ou doces, ou pizzas.
Digo mais, admiro muito uma mulher que põe a cara pra bater e o corpo na rua. É preciso muita coragem para isso e não vontade de levar vida fácil, pois pra grande maioria, nada é fácil nesse trabalho.
Não usem esse argumento. Mulheres fazem sexo por dinheiro até mesmo quando usam aliança na mão esquerda, então, não sejam moralistas e hipócritas.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Xiiii...Sonhei!

Fiz xixi na cama
Mamãe brigou
Desculpa mãe
Não deu, não segurou

Xixi na cama
Papai reclama
Que mal tem?
Você fazia também!

Xixi na cama
Roupa molhada
Troca o lençol
Colchão no sol

Xixi na cama
Vovó não liga
No seu abraço quente
Só ela me entende

Fiz xixi na cama
Mas eu levantei
Fui até o trono
Mas foi só um sonho...

Por entre os dedos

Quarto dia
Frio
No quarto,
a cama ainda quente
Entre as pernas
Uma ilha.
Sem solidão
Hoje não!
Calor escorre entre os dedos
Pele, pêlos
É Valerie o som.
Não é preciso sorrir
Boca fechada
Olhos fechados
Sem abraços
Mãos sim... Assim...
Fez-se a viagem
Sem pudores
Sem dores
O auto-amor.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Eu, heroi

Me faço grande
Em sonhos de papel
Com cor de giz-de-cera
Sou heroi sem capa
Voo sem sair do chão
Mil ideias me dão asas...
Enfrento o dragão,
O leão,
O monstro do armário
E a sombra da assombração
Sou gigante
Escalo muros
Pulo obstáculos
E ganho o mundo
Meus poderes?
Lápis, bola e sorriso
Sem ter medo de nada
Me torno invencível
Lá vou eu
O céu é meu
O chão é nada
Infinita é minha estrada

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Todos os castelos caem. Porque castelos não existem. São frutos das ilusões acumuladas nas mentes férteis e suscetíveis. Paredes de ilusões não resistem às intempéries da realidade. Mesmo da realidade mais sólida e ensolarada. Castelos são papéis. São nuvens. São algodão. Basta um sopro, um espirro do vento. E tudo se vai.
Não fica nem a beleza, a imagem. Estas também são construções fajutas.
Também não existem princesas. Elas são apenas um reflexo maquiado de uma mulher qualquer. Princesas cospem no chão, no prato que comeram, cospem na cruz. Princesas mentem e se deixam enganar quando convém. Princesas vivem aborrecidas, frustradas, largadas. Não são princesas. São donas das verdades que não constroem castelos. São donas de um dia-a-dia em que nem todas as decisões são delas. São donas de uma vida em que ser feliz não é uma escolha tão simples. São donas de si, sem livros de auto-ajuda ou palavras de sabedoria. Vivem de pé, mas também sabem cair.

domingo, 12 de abril de 2015

Cheiro de café torrado
O vento fechando meus olhos
Acabou chorare
Carneirinho
Hoje é segunda
E o que vem agora
É crise
É a vida chamando de volta
É coração ansiando por voar
Mente livre
Caminho à direita do rio
São as águas me chamando de volta
Vida
Vem, acorda!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Tolo
Aquele que não pula as cercas da certeza cega,
da crença velha
O tolo
Que me faz gargalhar
por dizer que tolo sou eu
Não procura a felicidade
Nem gargalhadas
Me freia e me cala
- Tome cuidado!
Cuidado tolo
Pra não escolher o sofrer
E se o seu medo
É o meu "escolho sorrir"
Cada um de nós, então
Que decida como errar.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Coração
Pássaro preso
Asas feridas
Canto calado

Pássaro preso
Coração
De doces versos
No canto acuado

Pássaro preso
Voa alto
Em pensamento
Passos contados

Pelas grades
Preso o pássaro
Coração
Não é culpado

Voa alto
Pássaro preso!
Quebra a gaiola!
Voa acordado!